Fenômeno Melisseira

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Viram como o intervalo entre uma postagem diminuiu em tipo, menos de um ano. Eu estou ficando fera já.

Hoje quero falar sobre uma coisa que, quem nunca viveu, não entende. O fenômeno Melisseira.

- ahhh derleana, mas eu sou / conheço uma melisseira, o que há de errado com elas?

Opa,
Nada que o autocontrole não resolva.

Vamos entender melhor como isso acontece.


O primeiro amor.



Ahhh que coisa mais linda, aquele momento que você vê um sapato maravilhoso na vitrine e se apaixona por ele, quem nunca né?
O problema acontece quando esse primeiro amor é uma Melissa, porquê ele te abre a possibilidade de entrar no mundo das drogas cheirosas... E pesadíssimas.
Meu primeiro amor foi uma Three Straps Elevated preta, bem goth. Procurei ela alguns anos depois de lançada então foi bem difícil achar uma nova. Quando consegui, e não foi barato. Ela chegou e aconteceu o primeiro contato olfativo.

- Maaaaano, como pode? Um sapato cheirar docinho?

SIM!!! CHEIRA!!!
E isso é um aviso galera.
Corra enquanto tem chances.

A Moda




Feliz ou infelizmente, Melissas sempre foram objeto de desejo da maioria das mulheres, por se tratar de um acessório de marca, reconhecido internacionalmente, e de valor elevado. Tornando seu pé alvo das olhadinhas incomodadas com o fato de você ostentar com tanta naturalidade, um objeto como esse.

- Mas não é só sapato?

NÃO! É DESIGN, É CHEIRO, É ESTILISTA GRINGO, É TUDO GATANNNM

Acontece que essa super popularização da bagaça, tornou o uso deste calçado, uma busca incessante pelo jóinha imaginário dos críticos de moda de portão. Ou seja, qualquer um que te olha na rua e julga seu vestuário.
Essas pessoas que você quer agradar.
Quando você usa um sapato aceito pela sociedade crítica de moda de busão, você é aceito e em alguns casos vira até uma web celebridade.

Os críticos de moda rua 



Essa é a sociedade mais fácil de entrar, basta você querer. Sem iniciação nem nada.
Consiste em ficar zapiando redes sociais em busca de look do dia, ou sentar por algumas horas num ponto movimentado de sua cidade e analisar.
O que poucos destes críticos entende, é que Moda vestual não é o que está em todas as vitrines, é muito relativo. Mas mesmo assim, ficam lá alfinetando cada coisa escrota que vêem.

- Blz, mas e o que Melissas tem a ver com isso?

Ninguém gosta de ser criticado, e a sociedade crítica de moda de rua julga bom, o que é "de marca". As vezes nem precisa ser original, convenhamos, ninguém checa nossas etiquetas. Mas enfim, sabendo que esse clã vai te aceitar se usar o que eles querem, você faz o quê? Vai lá e usa!
E isso inclui calça saruel, tatuagem minimalista, sneaker e blusinhas do Aliexpress que as boutiques pagam 3 dólares e revendem por 190 reais.

O Vício




Eu acredito, do fundo do meu coraçãozinho trevoso, que tem caroço nesse angu. Digo, que tem maracutaia nesse cheirinho de chiclete porquê você não conhece uma pessoa que tem UMA Melissa, quem tem uma, d repente tem 30!
E vai longe issoaí.
E as redes sociais ajudam a disseminar a prática. Meninas compartilham fotos de sua coleção composta de 50, 60, 150 caixas coloridas empilhadas de forma MARAVILHOSA e você almeja ter aquela torre de caixas na sua casa.
Passam 2 meses e você tem que dormir no sofá, porquê não tem mais espaço no seu quarto.

Sonhos Melissísticos 




Você descobre um modelo que nunca havia visto, parece ter sido esculpido para você. 
Começa a procurar e descobre que não fabricam ele tem uns 6 anos. 
Aí começa o desespero.
Você não pode viver sem essa obra de arte feita especialmente para os seus pés, está disposta a TUDO por ela e quando vê, tá oferecendo a sanduicheira que ganhou de presente de casamento na troca em grupos do Facebook.
As contas de água de luz ficam para o mês que vem, porquê banho quente você pode tomar na sua sogra, mas, quais as chances de encontrar essa raridade no seu número novamente?

- Elas são capazes de tudo mesmo?

SIM, DE TUDO. 

É a cracolândia das Melisseiras. Ainda posso ouvir aquela voz na minha cabeça me dizendo;

Você precisa dela, é especial, é sua cara, quase ninguém tem.
Você é única, precisa mostrar para o mundo o quão especial você é...usando essa Melissa.

E quando você finalmente encontra seu objeto de desejo, é capaz de pagar 200, 300 reais num sapato de plástico, usado e ás vezes vem até sujo. 
Mas você se sente uma historiadora resgatando um tesouro enterrado.

A Compulsão
substantivo feminino
  1. 1.
    imposição interna irresistível que leva o indivíduo a realizar determinado ato ou a comportar-se de determinada maneira.


Essa é talvez a parte mais complicada que passamos, pois envolve nossa saúde psiquiátrica, e sem exageros, toda compulsão é uma doença.
Você pode ou não ter dinheiro para torrar em sapatos, se tiver, ótimo. Não vê motivos para não fazer o que quer tanto, mas se não tiver, ou for escasso, você pode ter problemas com dívidas no cartão, contas atrasadas podem te prejudicar, sem falar no estresse que esses problemas causam, mas com certeza o pior deles é tentar se justificar para parceiro e familiares que estão enxergando seu problema e nada podem fazer por você, afinal, o dinheiro é seu e você gasta como quer, não é mesmo?

Lidar com a decepção é muito triste. Não conseguir o que deseja, ou fracassar em algo também é como querer comprar algo e não ter dinheiro para isso. Um balde de água fria na cabeça te fazendo encarar essa realidade que você não quer admitir que é sua.
O ego é dilacerado, você se recolhe a sua insignificância de ser humano normal.

Não é exagero, é o que sentimos quando não conseguimos o que queremos.

Voltando à Melisseiras, a grande rotatividade de modelos, cores e coleções, segura a consumidora nesse relacionamento, onde ela fica dependente da marca.

Tá calor? Chinelo da Melissa.
Trabalhar em escritório? Sapatilha preta com lacinho da Melissa.
Balada? Salto alto de glitter e spikes da Melissa.
Chuva? Galocha da Melissa.
Academia? Tênis da Melissa.

Pra quê usar um sapato sem cheiro de chiclete afinal?

Também não sei galera.


Melisseiras x Rolezeiras

Melisseira é toda garota que gosta muito da marca, tem ou não um número exorbitante do calçado. Se identifica com os modelos (por mais estranhos que sejam) 
Rolezeira foi o nome dado às garotas, geralmente adolescentes saindo da puberdade, que usam os modelos mais populares por causa da "moda" entre elas, de ostentar vestuário mais caro.

- Mas qualé a treta?

Além do gosto musical questionável, as rolezeiras tem fama de desdenhar de pessoas que gostam dos modelos mais atípicos, usam de sua educação de berço para ridicularizar as fãs de modelos mais clássicos da Melissa. Essa atitude fez o público da marca dispersar-se, uns abandonaram de vez o "amor" e outras consomem apenas o que não agrada ao outro público.
Limitando completamente ambas as tribos.

A Marca não vai deixar de fazer os modelos "diferentes", nem as rasteirinhas de amarrar. Tudo vende, eles não são bobos.
Mas conviver em sociedade com pessoas que gostam da Marca tanto quanto você, mas que fazem essa distinção por causa de um modelo ou outro foi o que mais me entristeceu. 

Modelos Feios



Assim como qualquer outra coisa no mundo, o bonito e o feio depende do ponto de vista de cada um.
Vejo muito essas frases:

- Nossa, a Melissa tá piorando cada dia mais.
- Que ridículo, nem parece Melissa.
- A Melissa já foi melhor.
- Quem usaria esse negócio? 
"Esse negócio" foi criado por um profissional respeitado, que assim como você, tem o direito de expressar o que acha bonito, e pessoas que se identificaram com seus modelos vão consumir seus produtos.
Eu não compro comida estragada, por quê eu deveria comprar um sapato que não me agrada?
Ta aí, não precisa.

E dar sua insignificante opinião sobre algo é tão desnecessário quanto comentar que a marca já foi melhor. Se tudo evolui, o mínimo que precisamos fazer é evoluir também, isso inclui mudar conceitos e conhecer coisas antes de julga-las.

Desapegos

Assim como relacionamentos acabam, amor por sapatos também acabam. Mas nem sempre é tão dolorido se separar deles. Depende também, assim como na vida amorosa, do motivo.
Relacionamentos podem chagar ao fim por inúmeros motivos. Você pode parar de achar a pessoa atraente por exemplo, enjoar até te machucar. Entenda como metáfora.
Você não precisa declarar ódio à marca, pode ter uma separação amigável, quem sabe no futuro rolar um flashback. 

Essa montanha-russa de sentimentos, compulsão, amor extremo, é tão prejudicial na vida amorosa quanto na vida de shoeaholic.

Já dizia vovó que tudo em excesso faz mal, larguemos os excessos então.
Tenham vidas livres, sem compromisso com marca, sem grilo com sonhos difíceis de realizar e coleções incompletas, calosidades e mais, sem gerar inimizades por causa de sapato.


Esta postagem ilustra minha experiência pessoal.

Dirley Anne










 
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